ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 25.06.1996.
Aos vinte e cinco dias do mês de junho do ano de mil
novecentos e noventa e seis reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e
nove minutos constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou
abertos os trabalhos da presente Sessão destinada a homenagear o Centenário da
Ordem dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul, nos termos do Requerimento nº
61/96 (Processo nº 802/96) de autoria do Vereador Décio Schauren. Compuseram a
MESA: o Ver. Reginaldo Pujol, 2º Secretário desta Casa, o Frei Wilson
Dall’Agnol, Vice-Provincial da Ordem dos Freis Capuchinhos do Estado, o Frei
Luís Carlos Susin, representante da Fraternidade da Ordem dos Freis Capuchinhos
de Porto Alegre, do Frei José Carlos Felisberto, representante do Senhor
Prefeito Municipal de Porto Alegre e o Major Érico Barcelos Camargo, representante
do Comando Geral da Brigada Militar. Em prosseguimento, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional. Logo
após, o Senhor Presidente registrou a importância desta homenagem a uma
Instituição que, sobretudo, prepara pessoas e mão de obra qualificada para
atuarem em nosso mercado de trabalho. Em continuidade, o Senhor Presidente
concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Décio
Schauren em nome das Bancadas do PT, PTB, PC do B, PPS, PSDB e PFL, discorreu a
respeito do trabalho realizado pelos Freis Capuchinhos em prol dos pequenos
agricultores e trabalhadores sem-terra, ressaltando a importância deste para
com a comunidade de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul e, por fim, parabenizando-os
pela persistência na busca da construção do Reino de Deus. A seguir, o Senhor
Presidente registrou a presença, como Extensão de Mesa, do Frei Rovílio Costa,
do Senhor Irno Luiz Bassani, Presidente da Massolin de Fiori Societá Italiana,
do Vereador de Ouro Verde, Dirceu Pasini, do Frei Fausto Bernardi, Capelão da
Pontifícia Universidade Católica e do ex-Deputado Estadual Selvino Rech,
Diretor Substituto do Departamento Municipal de Habitação. Em prosseguimento, o
Ver. Airto Ferronato, em nome das Bancadas do PMDB e PPB, parabenizou a Ordem
dos Freis Capuchinhos pela presente data salientando o belíssimo serviço
prestado por eles, no decorrer destes cem anos, à nossa comunidade. Em
continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Frei Luís Carlos Susin
que agradeceu aos Senhores Vereadores desta Casa pela presente homenagem e
teceu considerações sobre a história da fundação da Ordem dos Freis
Capuchinhos. A seguir, o Frei Wilson Dall’Agnol agradeceu a presente homenagem
dizendo de suas esperanças para com a política que é praticada em Porto Alegre,
buscando cada vez mais o bem estar social e os interesses e direitos humanos de
todas as pessoas. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou os Vereadores
Décio Schauren e Airto Ferronato para entregarem aos representantes da Ordem
dos Freis Capuchinhos, dois exemplares da obra comemorativa aos dez anos da
nova sede da Câmara Municipal de Porto Alegre, intitulada “Porto Alegre à Beiro
do Rio e em meu Coração”. Às vinte horas e quatorze minutos, nada mais havendo
a tratar, o Senhor Presidente agradeceu à presença de todos e declarou
encerrados os trabalhos. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Reginaldo
Pujol e secretariados pelo Ver. Décio Schauren como secretário “ad hoc”. Do que
eu, Décio Schauren, secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente
Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores
Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo
Pujol): Damos
por abertos os trabalhos da 15ª Sessão Solene, que se destina a
homenagear o Centenário da Ordem dos Freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul, de
acordo com Requerimento de autoria do Ver. Décio Schauren.
Convidamos para fazer parte da Mesa: Frei Wilson Dall’Agnol,
Vice-Provincial da Ordem dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul; Frei Luís
Carlos Susin, representante da Fraternidade da Ordem dos Freis Capuchinhos de
Porto Alegre; Frei José Carlos Felisberto, representando o Sr. Prefeito
Municipal de Porto Alegre; Major Érico Barcelos Camargo, representando o
Comando-Geral da Brigada Militar.
Esta Sessão, que tenho a satisfação de presidir, no impedimento do
Presidente da Casa, que se encontra em representação externa da Casa,
destina-se a homenagear os cem anos da presença dos Freis Capuchinhos no Estado
do Rio Grande do Sul, desde 1896.
A homenagem e o registro se deve à diligência do Ver. Décio Schauren,
que chancelou o Requerimento, que, submetido à aprovação da Casa, teve
aprovação unânime pela relevância indiscutível e pela benéfica presença no Rio Grande
do Sul desta ordem religiosa que se insere de forma muito efetiva na vida
religiosa do Estado e na vida educacional e social do nosso Estado.
Gostaria de convidar a todos para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Executa-se o Hino Nacional.)
O autor do Requerimento é o ilustre Ver. Décio Schauren. Concedo-lhe a
palavra como Requerente da Sessão, pela Bancada do Partido dos Trabalhadores, a
sua Bancada, e como representante das Bancadas do PTB, do PCdoB, do PPS e do
PSDB. E ainda pediria que falasse em nome do PFL.
O SR. DÉCIO SCHAUREN: (Saúda os componentes da
Mesa.) Senhoras e Senhores. “A paz e o Bem”. A obra material, espiritual dos
freis capuchinhos no Rio Grande do Sul é tão grande e disseminada, que certa
vez alguém disse que ser gaúcho e, principalmente, da colônia italiana e não
ter recebido nenhuma influência dos capuchinhos é mais difícil do que passar
intacto por um matagal de pega-pega. Em toda parte do Rio Grande do Sul estão
as marcas deixadas pelo trabalho dedicado e incansável desses missionários
populares que são os freis capuchinhos. São centenas de milhares de gaúchos que
têm na sua formação o dedo dos capuchinhos. O trabalho de organização e
formação é o eixo central da promoção humana e religiosa dos freis capuchinhos
em dezenas de paróquias do Rio Grande do Sul. É um trabalho sem paternalismo
que, mais do que dar o peixe, tenta ensinar a pescar. O espírito de
fraternidade, de simplicidade, de busca de formas alternativas para a melhoria
das condições de vida são as marcas desse trabalho que promove os seres
humanos, dotando-os de uma visão crítica e criativa diante do mundo. Quem não
conhece ou participa das comunidades eclesiais de base, as CEBs, da pastoral da
terra, da pastoral operária, da pastoral da saúde, que se preocupam em promover
o povo pobre e marginalizado? Um exemplo disso é o trabalho promovido pelos
frades capuchinhos de Canoas com os catadores de lixo, que tiram seu sustento
do esbanjamento da sociedade de consumo, numa demonstração de organização, de
solidariedade e compromisso ecológico. Quem já não ouviu a famosa pregação
sobre os telhados, que é feita pelos freis capuchinhos através de suas rádios:
Rádio Veranense; Rádio Cacique, de Lagoa Vermelha; Rádio Difusora, de
Garibaldi; Rádio Alvorada, de Marau; Rádio Cristal, de Soledade; Rádio Fátima,
de Vacaria; Rádio São Francisco, de Caxias do Sul. Quem não conhece o Correio
Riograndense e o Calendário Antoniano com seus mais de 350 mil exemplares?
Certamente, não se poderia prever uma contribuição cultural tão decisiva e, ao
mesmo tempo, uma contribuição espiritual tão decisiva, quando os dois primeiros
missionários capuchinhos chegavam à Vila Conde D’Eu, atual Garibaldi, em 18 de
janeiro de 1896. Eram os Freis Bruno de Gillonet e Leon de Montsapelle, que
vinham da Província de Sabóia, na França, para atender os imigrantes italianos
a pedido do Bispo Dom Cláudio Ponce Leão, Bispo da Diocese de São Pedro do Rio
Grande do Sul, o qual se deu conta do abandono religioso em que se encontrava a
colônia italiana.
Evidentemente, não foi uma empreitada fácil adaptar-se às dificuldades
do Novo Mundo e, principalmente, converter-se à realidade local. Os estranhos
visitantes de língua francesa chegavam à colônia italiana com hábito de São
Francisco, longas barbas, chapéu de palha para proteger a cabeça tonsurada dos
fortes raios do sol de verão. Eles chegavam a Garibaldi de carroça via São
Sebastião do Caí. Eles vinham refugiados, na verdade, de uma certa perseguição
que acontecia na França aos institutos religiosos. Esse refúgio temporário
acabou se tornando definitivo. A Província de Sabóia praticamente se refugiou
no Rio Grande do Sul, tanto que, numa só viagem, chegaram quatro sacerdotes,
dois estudantes de teologia e dois noviços. Daí em diante, esse trabalho todo
só foi avançando e foi progredindo. Já em 1899 o noviciado e a filosofia foram
instalados em Nova Trento, atual Flores da Cunha; em 1902, o seminário menor
fixou-se em Alfredo Chaves, atual Veranópolis; em 1935, na cidade de Marau foi
constituído um amplo convento para filosofia, permanecendo a teologia em
Garibaldi até 1958, quando foi transferida para Porto Alegre. E assim foram se
instalando em várias cidades, como, por exemplo, em Ijuí, onde, em 1951, foi
criado o curso de filosofia; em 1986 nasceu a ESTEF, Escola Superior de
Teologia e Espiritualidade Franciscana, aberta para família franciscana, outras
congregações, inclusive leigos e leigas, estudando a Teologia a partir da
realidade latino-americana. Ainda relacionada à ESTEF, existe a Editora Est,
ordenada pelo Frei Rovílio Costa, que está presente neste ato e que, há poucos
momentos, acaba de ser homenageado por esta Casa. Esta Editora hoje é detentora
de todo acervo referente às publicações sobre a imigração italiana.
Teria muitas outras coisas a dizer sobre o trabalho principalmente
sobre a história de como se desenvolveu o trabalho dos freis franciscanos no
Rio Grande do Sul. É importante dizer que há cem anos, os capuchinhos vieram
para atender os imigrantes italianos que tinham vindo da Europa e que estavam abandonados,
muitas vezes, à mercê da própria sorte, pelo governo brasileiro, que prometia
terras, sementes e instrumentos de trabalho, e não cumpria suas promessas.
Hoje, depois de cem anos, os capuchinhos continuam atendendo os
migrantes, continuam atendendo os pequenos agricultores, os sem-terra. Isso
fazem através da Pastoral da Terra, inclusive atendendo áreas de migração no
Mato Grosso e Rondônia. A diferença é que, hoje, o problema se agravou, pois
temos 12 milhões de camponeses sem-terra, lutando por um pedaço de chão, pela
Reforma Agrária. Ao mesmo tempo, outros milhões lutam por melhores condições de
vida nas grandes cidades, onde os freis capuchinhos se fazem presentes,
organizando o povo nas comunidades eclesiais de base, nas Pastorais Operárias, na
Pastoral da Saúde. Queremos dizer, neste momento, aos queridos freis
capuchinhos, neste ano da passagem dos cem anos da presença no Rio Grande do
Sul, que continuem cada vez mais firmes no seu trabalho de evangelização, que
vocês continuem o trabalho de Pastoral, através das trinta e nove paróquias já
instaladas no Rio Grande do Sul; que vocês continuem formando novos capuchinhos
nos seminários espalhados pelo Estado, na ESTEF; que vocês continuem o trabalho
de formação dos filhos de agricultores, dos sem-terra e dos assentados, no
Seminário de Veranópolis, que, historicamente, educou os filhos dos colonos;
que vocês continuem o trabalho de radiodifusão das doze emissoras espalhadas
pelo interior; que vocês continuem e ampliem exemplos de imprensa como o “Correio
Riograndense”; que vocês continuem contribuindo com a organização de
cooperativas, de universidades comunitárias, de forma tão decisiva como na
CONTRIJUÍ e na FICENE (UNIJUÍ).
Enfim, que vocês continuem de forma cada vez mais concreta o trabalho de
construção do Reino de Deus.
Porto Alegre, o Rio Grande do Sul, enfim, a humanidade precisa de
vocês. Parabéns. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Temos a prestigiar esta
Sessão Solene destinada a homenagear o centenário da Ordem dos Freis
Capuchinhos do Rio Grande do Sul algumas pessoas que teriam toda a condição de
estarem integrando a Mesa Diretora dos trabalhos. A começar pelo Frei Rovílio
Costa que, há cerca de uma hora, foi homenageado por esta Casa, quando recebeu
o Prêmio Érico Veríssimo. Além dele, algumas outras pessoas que, sob todos os
aspectos, dignificam esta Sessão Solene, como é o caso do Presidente da
Massolin de Fiori Societá Italiana, Sr. Irno Luiz Bassani; o nosso colega Ver.
Dirceu Pasini, de Ouro Verde - SC; o Frei Fausto Bernardi, Capelão da PUC, e o
ex-Deputado Selvino Rech, atual Diretor Substituto do Departamento Municipal de
Habitação, aos quais peço que se considerem integrados à Mesa Diretora dos
trabalhos.
Dando continuidade aos nossos trabalhos, teremos a oportunidade de
ouvir agora um dos mais destacados Vereadores desta Casa, nosso ex-presidente e
atual Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Ver. Airto Ferronato,
que falará pelas Bancadas do Partido do Movimento Democrático Brasileiro e do
Partido Progressista Brasileiro. Com a palavra o Ver. Airto Ferronato.
O SR. AIRTO FERRONATO: (Saúda os componentes da
Mesa e demais presentes.) Senhoras e Senhores, em primeiro lugar, a minha
satisfação de estar aqui, Vereador de Porto Alegre, neste momento em que se
homenageiam os freis capuchinhos e, em especial, a nossa homenagem pelos cem
anos de história de vinda para o Rio Grande do Sul. Eu tenho dito, sempre que
posso, que sou um cristão convicto, católico praticante e tenho participado na
Igreja Católica do movimento de Cursilhos, e eu gosto de carregar esta
bandeira. Na semana passada, num evento da igreja, eu tinha lido, há algum
tempo, e ouvi uma mensagem que dizia o seguinte: “A felicidade está dentro de
uma sala e esta sala é fechada e tem uma porta; muitos procuram entrar nesta
sala, mas nem todos conseguem porque a porta se abre para fora e a maioria das
pessoas tentam abrir a porta para dentro; daí o porque de não conseguirem
entrar na sala da felicidade”. Eu aprendi que é exatamente abrindo a porta para
fora que nós alcançamos esta felicidade porque, quando abrimos o coração,
entendemos que a felicidade vem a nós. Se as coisas materiais ou até mesmo
espirituais chegam a nós sem pensarmos na humanidade, sem pensarmos em abrirmos
para fora, nós somos egoístas, mas nunca felizes. Eu faço esta pequena
observação porque entendo que os freis capuchinhos têm a porta do seu coração
aberta para fora. A sua história, ao longo do tempo tem demonstrado que esta
porta aberta para fora tem buscado incessantemente alternativas, ações que
visam à busca do bem comum e à felicidade especialmente daqueles mais
necessitados. A minha vida, enquanto pessoa humana – também como o Ver. Décio
Schauren, sou filho de colono – teve muito próxima a presença de freis; meu pai
tem primos freis capuchinhos e, assim, uma série de outros, tios dos meus pais,
primos deles são freis também. Nós tivemos esta oportunidade de conviver com a
presença na família, permanentemente, vivendo as histórias dos capuchinhos, daí
por que nós sabemos o que têm feito pelo Rio Grande – o Ver. Décio Schauren
falou muito bem sobre isso.
Mas vou contar uma outra história, que diz o seguinte: certa vez uma
pessoa adquiriu uma casa velha. E ele, cuidando daquela casa, construiu um
belíssimo jardim. E, de repente, uma pessoa viu o jardim e disse: “como Deus
faz maravilhas”. Ele então disse: “Se a senhora soubesse como estava este
jardim quando Deus cuidava dele sozinho!”. Então, esta mensagem me leva a dizer
que nós precisamos de jardineiros para cuidar o nosso jardim junto com Deus. E,
na minha visão, são os freis capuchinhos grandes jardineiros, vendendo a
esperança e enfeitando este jardim que é a nossa população e cuidando daqueles
que tanto necessitam de uma ação mais forte e presente das autoridades, mas
também levando e trazendo para si buscas de ações espirituais. Por isso o nosso
registro carinhoso. Parabéns a todos! A nossa homenagem a esses cem anos e
continuem prestando esse belíssimo serviço à nossa comunidade. Um abraço e
parabéns ao Ver. Décio Schauren pela homenagem que a Câmara presta na data de
hoje. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Frei Luís
Carlos Susin.
O FREI LUÍS CARLOS SUSIN: (Saúda os componentes da
Mesa.) Sr. Ver. Décio Schauren, propositor desta Sessão Solene; Srs.
Vereadores; Senhoras e Senhores que nos honram com suas presenças.
“De Rio Grande viajamos para a capital da província, onde fomos muito bem recebidos”. Esta notícia inaugural sobre Porto Alegre na primeira correspondência de Frei Bruno de Guillonet só recebeu confirmação ao longo de um século. E como gostaríamos que estivessem aqui Frei Bruno de Guillonet, Frei Leór de Montsapelle e Frei Rafael de la Roche, os três que aqui aportaram, para dizer, certamente felizes, conosco: “Obrigado, Porto Alegre”.
Felizes e agradecidos estamos nós, os frades que hoje vivemos nesta
Porto Alegre amada, podendo recordar, exatamente nesta Casa, diante de quem
representa Porto Alegre, a história de nossos confrades em um século
intensamente vivido nesta Cidade. Um século é muita história, tanto para a
Cidade como para as sandálias dos frades, que primeiro percorreram os
corredores do Seminário de Porto Alegre e depois se recolheram, segundo a
correspondência da época, numa encantadora colina do Partenon, a quatro
quilômetros do centro, de onde se contempla um esplêndido pôr-do-sol, e de lá
bateram pelas calçadas e subiram bondes em muitas direções, buscando servir as
mais diferentes comunidades paroquiais e instituições com sua presença religiosa,
com sabedoria e misericórdia.
Queremos lembrar com carinho, além do auxílio pastoral, desde a
catedral até a fundação de novas paróquias na periferia, além dos que se
dedicaram à cultura, à universidade, às escolas e aos meios de comunicação, os
frades que se dedicaram de modo muito especial e até heróico ao Hospital
Psiquiátrico São Pedro, ao hospital para hansenianos de Itapuã e Amparo Santa
Cruz para filhos de hansenianos. Como síntese desta generosidade criativa e
plural, recordamos a figura suave e vigorosa de Frei Pacífico de Belevaux,
dedicado ao mesmo tempo ao grupo de intelectuais que está nas origens da
Pontifícia Universidade Católica, aos retiros espirituais para políticos e
intelectuais, à fundação, com a porto-alegrense Morena de Azevedo – a Madre
Carla – de uma congregação de mulheres que se distinguem, ainda hoje, pela
educação de surdos-mudos, e por se dedicar, ele mesmo, pessoalmente, em tempos
em que não tinham volta os que lá iam, aos hansenianos de Itapuã. Hoje está
sepultado junto ao Convento daquela “colina encantadora”, o morro Santo
Antônio. Mas o bem que ele e os outros frades de barbas e sandálias fizeram
está transfigurado e anônimos nas veias e na vitalidade desta Cidade, onde eles
procuraram fazer de tudo para todos, como recomendava São Paulo.
Hoje, provavelmente, sorrindo, eles nos dizem, como São Francisco:
“Fizemos a nossa parte, procurem fazer a de vocês”. A segunda metade do século
foi marcada por muitas transformações. O Concílio Ecumênico Vaticano II e as
renovações da Carta Constitucional dos Capuchinhos, enfim, os novos tempos, nos
deixaram quase sem hábito, sem barba e sem sandálias, nos convidaram à
descentralização e a novas formas de estarmos no meio do povo. Mas hoje, como
ontem, buscamos manter o mesmo dinamismo criativo para servir, como aquilo que
nós sabemos fazer, o amanhã do povo de Porto Alegre. É desde a fé e desde a
esperança que somos motivados a ajudar Porto Alegre, esta Cidade que há um
século nos deu cidadania. E com as energias da fé e da esperança, da
generosidade que são inerentes à fé e à esperança, desejamos contribuir para a
dignidade e a cidadania, para a esperança e as lutas dos que vivem esta Cidade.
É uma pequena contribuição entre tantas outras preciosas contribuições, com as
quais nós partilhamos o trabalho, desejando para Porto Alegre o que São
Francisco nos ensinou a desejar, anunciar e trabalhar: “A Paz e o Bem”!
Obrigado Porto Alegre! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Eu tenho a satisfação de
transferir a palavra ao Vice-Provincial da Ordem dos Freis Capuchinhos do Rio
Grande do Sul, Frei Wilson Dall’Agnol.
O SR. WILSON DALL’AGNOL: (Saúda os componentes da
Mesa e demais presentes.) A todos saudamos com a nossa fraterna saudação de paz
e bem. O dia 18 de janeiro de 1896 é uma data significativa para Garibaldi,
onde chegaram os três freis capuchinhos. Chegados em Rio Grande, passaram por
Porto Alegre antes de chegar a Garibaldi, os freis Bruno, Leão, acompanhados do
provincial da Savóia, França – nós somos a única província do Brasil que tem
origem francesa, ou que não fosse de origem italiana. Dessa mesma província,
nós hoje temos a província do Brasil Central, Goiás e Mato Grosso do Sul,
desmembrada desta província do Rio Grande do Sul. Hoje, também, nós temos a custódia,
como nós chamamos, que é a presença de mais de vinte e oito frades no Mato
Grosso e Rondônia. Na verdade, a nossa presença nas missões populares, como bem
disse o Ver. Décio Schauren, é que marca, que dá um distintivo forte à nossa
presença no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e outros Estados. Aliás, os freis
missionários capuchinhos do Rio Grande do Sul estão partindo logo mais para o
Espírito Santo, onde vão permanecer três meses pregando missões. Também vão
para outros Estados do Nordeste. Então, além da nossa presença nas missões
populares, estamos presentes nas paróquias. São cinqüenta e seis paróquias
espalhadas pelo Brasil. Em Porto Alegre e arredores nós temos paróquias de
Santo Antônio do Partenon, São Judas Tadeu; estamos presentes também na
Paróquia de Belém Novo; temos uma comunidade dentro da Paróquia de Navegantes,
na Ilha da Pintada; Campo da Tuca; Vila São José; Tramandaí. Tudo isso compõe
uma presença muito significativa.
Eu não poderia deixar de registrar, aqui, a nossa presença desde o
Morro da Tuca até o leito dos hospitais: Sanatório Partenon, Itapuã, Parque
Belém, Mãe de Deus, Hospital da PUC, Ipiranga, de Clínicas e de Cardiologia.
Desde o morro até o leito dos hospitais, subindo e descendo, nós sempre levamos
a nossa mensagem de fé e esperança.
Quando os freis capuchinhos chegaram no Rio Grande do Sul, o antigo
arcebispo dizia: “Tomara que vocês fiquem, porque em Garibaldi poucos
permaneceram”. Olhando um pouco a história de Garibaldi e toda a região de
migração italiana, e depois nos campos de Vacaria, a presença dos freis junto à
necessidade humana é que deu respaldo popular, deu aceitação e acolhida do
povo, a presença nas necessidades humanas. É por isso que a nossa presença nas
vilas, nos hospitais faz com que hoje sintamos, cada vez mais, esse compromisso
de estarmos junto a todas as pessoas que nos procuram. A nossa presença nas
paróquias, hospitais, missões populares, pastorais específicas, como a pastoral
da saúde, do aconselhamento, da terra, operária, indígena. Neste ano um frei
está trabalhando em Cacique Doble junto com os índios Guarani e Kaingang e
tantas outras pastorais específicas. Procuramos ter presente sempre o que São
Francisco pedia dos frades: “Estejam no mundo como um sinal de fraternidade e
ecumenismo, como um sinal de minoridade e pobreza, oração e contemplação, sinal
de missão, de justiça, paz e ecologia”. Estamos aqui porque estamos em cima do
morro, nas paróquias acolhendo as pessoas que nos procuram para aconselhamento
e tantas outras necessidades.
A vocês que nos distinguiram com essa homenagem, nosso agradecimento.
Muito obrigado. Que esta homenagem sirva a todo o povo com o qual nós
trabalhamos! Trazemos aqui esse mesmo povo para que, junto com esta Casa, junto
com a política que é praticada em Porto Alegre, haja cada vez mais participação
e busca do bem comum, do bem-estar social, busca dos interesses e direitos de
toda pessoa humana.
Como dizia São Francisco – até agora, cem anos aqui, no Rio Grande do
Sul, pouco ou nada fizemos: comecemos tudo de novo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Esta Casa sente-se muito
honrada no dia de hoje por ser palco dessas homenagens justas, realizadas com
regozijo da sociedade, da comunidade porto-alegrense, pela presença, entre nós,
dos cem anos dos nossos queridos capuchinhos. Para registro desse fato, para
que fique bem claro que Porto Alegre, através de seus representantes populares,
tem um apreço muito grande à essa Ordem, pediria ao Ver. Décio Schauren, feliz
proponente dessa Sessão Solene, juntamente com o seu colega, Ver. Airto
Ferronato, tão vinculado à Ordem, que chegassem até a mesa para procederem à
entrega aos nossos dois representantes, Frei Wilson Dall’Agnol e Frei Luís
Carlos Susin, de dois exemplares desse livro que a Câmara de Vereadores editou,
agora, no seu 10º Aniversário, que é “Porto Alegre à Beira do Rio e em Meu
Coração”.
(Procede-se à entrega dos livros.)
Antes de encerrar, não posso deixar de assinalar a minha honra pessoal de, circunstancialmente, estar presidindo os trabalhos. Fico muito feliz com isso, e até há pouco tempo, lendo o folheto comemorativo ao centenário da presença dos freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul “Quem Sou, Onde Estou e o que Fazemos”, recolhi um trecho – o trecho final – que coloca, de forma muito especial, a visão dos Capuchinhos sobre a sua missão. Afirmam que, com seus duzentos frades – cinco deles bispos -, cinqüenta e quatro paróquias, vinte e cinco comunidades formativas, doze emissoras de rádio, uma custódia, presença das mais diferentes pastorais, a Província Capuchinha do Rio Grande do Sul, tendo como titular o Sagrado Coração de Jesus, sente necessidade de agradecer a Deus por este século e por todos aqueles que ajudaram a construir essa saga. “É uma herança que nos compromete e desafia. É um apelo a começar de novo, como queria São Francisco”.
Então quero, invocando a Graça de Deus, convidar a todos para que
juntos comecemos de novo com as palavras “paz” e “bem”. Muito obrigado a todos.
Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 20h14min.)
* * * * *